Piloto e
Flávio quando eram aliados
O
prefeito e o ex-prefeito de Alenquer já estão no ringue para o primeiro combate
eleitoral entre os dois desde quando passaram da condição de aliados para a de
adversários políticos.
Flávio
Marreiro, atual gestor ximango, apoia a candidatura a governador de Helder
Barbalho (PMDB), por orientação do seu novo guru
político, o advogado Osmando Figueiredo (PDT).
João
Piloto, ex-prefeito e ex-DEM, virou tucano e apoia a reeleição do governador
Simão Jatene.
Ontem
(23), o ximango que foi prefeito por 3 vezes comandou a inauguração da nova
sede do PSDB no município.
É ele que
irá coordenar a campanha jatenista em Alenquer, que tem cerca de 36 mil
eleitores.
A ARTE DOS INTERESSES
por Joaquim Onésimo F. Barbosa
(*)
Um dos conceitos que encontrei de
POLÍTICA, além de ser “a ciência da governação de um Estado ou Nação”, é – e
talvez seja ao que mais devotos se apegam para fazer o que fazem quando se
tornam homens da política – “uma arte de negociação para compatibilizar
interesses”.
Interessante pensar que a
política como arte – e é mais arte do que outra coisa – torna-se um meio de
negociação, de manipulação, de desvirtuação, de troca, de apreço sem a
abnegação do que o nome política – politká – aquilo que é público, permite que
muitos possam entender como tal.
Quando se fala em política, o
senso comum leva-nos à beira do que é mais sórdido da convivência e da
comercialização sociais: para muitos, a política torna-se sinônimo de
malandragem, de falcatrua, de roubalheira, de corrupção, de trapalhadas de
homens bem vestidos, que se dizem os representantes legítimos do povo, e o são
de fato.
Hannah Arendt, em seus escritos
sobre política, destaca que, a política baseia-se na pluralidade dos homens, e
certifica-nos “É surpreendente a diferença de categoria entre as filosofias
políticas e as obras de todos os grandes pensadores – até mesmo de Platão. A
política jamais atinge a mesma profundidade. A falta de profundidade de
pensamento não revela outra coisa senão a própria ausência de profundidade, na
qual a política está ancorada”.
E, se há falta de profundidade no
que a política parece ser, a muitos, àqueles que se atrevem a viver no/do
comércio da política, falta senso para entender que, além do senso comum e da nossa
ideia macunaímica do que vem a ser política, há um espaço em que ela se tece
como a ciência da governação de um Estado ou Nação; e como ciência, é tecida no
seio daquilo que busca o verdadeiro, o notável, o consciente, o provado e
justificável, quando trata de temas sociais e econômicos de interesse público:
política educacional, política de segurança, política salarial, política
habitacional, política do meio ambiente, política da saúde, etc., etc….
Para Arendt, “a política trata da
convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas
coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das
diferenças”.
E a ideia que temos da política é
mais de um caos do que de uma organização de homens sérios – o que seria
injustiça pensar assim, quando, na verdade, há os que se colocam na política
para mudar a visão que a sociedade passou a ter na razão política, por culpa
daqueles que não têm vocação alguma para viver na/da política, mas entram nela
para trabucar por seus interesses pessoais, simplesmente, e acabam tisnando a
ciência da governação do Estado e da Nação.
Pergunte a qualquer cidadão sobre
o que ele entende por política, e o que se ouvirá será um rendilhão de ideias,
muitas delas negativas.
Não há escola para se aprender a
fazer política. E a escola que temos pouco ou quase nada nos ensina sobre
política. As aulas de História, de Geografia, de Sociologia, de Filosofia, de
Língua Portuguesa estão a serviço de quem mesmo? Servem para que mesmo?
Talvez a volta da velha OSPB
fosse útil em tempos de crise e de esquecimento dos preceitos morais e éticos
da política. Lembro-me das saudosas aulas de OSPB da professora Selivalda
Pedroso, do Pedro Álvares Cabral. Lembranças.
Deveria haver vestibular para
políticos. Quem se atreve a viver na/da política deveria, primeiro, estudar
política; deveria participar de organizações sérias que trabalham a política
como veio para o bem social. Mas como não há um funil que peneira os bons dos
maus políticos, a única peneira que temos é a urna, onde dedilhamos números de
quem achamos ser alguém sério e de competência para nos representar. Votamos no
escuro e acabamos, depois, percebendo que trocamos zero por nada.
No Brasil, de dois em dois anos,
temos os festivais de apresentação da arte política. Este ano é um deles.
Certamente, é o evento mais importante da nossa Nação, pois é quando escolhemos
aqueles que comandarão nossos passos como cidadãos por quatro ou oito anos – 4
anos para deputados, governadores e presidente da República e oito para senador
– ainda não entendo por que senador precisa viver oito anos as nossas custas, a
custos altíssimos, sem pouco ou nada fazer.
Um amigo meu foi aprovado num
concurso federal e, para tomar posse, teve sua vida devassada, para saberem se
ele é alguém de identidade proba. Teve que provar de A a Z que é honesto, que
tem uma vida íntegra, que está apto para exercer um cargo público.
O mesmo deveria acontecer com
aqueles que se animam a concorrer a uma das vagas para o exercício do exercício
do comércio dos interesses pessoais na/da política.
Para quem estuda, para quem tem
que passar por uma prova que muito ou pouco mede a capacidade ética, há uma
lista de cuidados e exigências a serem seguidos, para poder exercer um cargo
público. Para quem vai decidir o futuro da Nação, para quem vai comandar as
minas do rei Salomão, há algumas poucas exigências, as quais muitos burlam e
desdobram com mentiras – caso de um ex-candidato a prefeito que, no pleito
passado, teve a cara de madeira de se declarar um cidadão em extrema pobreza,
quando o rio Arapiuns e as terras de São Pedro, São Miguel e Bom Futuro sabem
que não é verdade.
A tal Lei da Ficha limpa não
passa de uma boa intenção com pouca eficiência. Ela serve para alguns, menos
para os políticos. É só ver o rol de candidatos fichas sujas circulando por aí,
bancando o bom mocinho, pinóquios disfarçados.
Há os que zombam descaradamente
do cidadão, os que têm a ficha mais suja do que pau de galinheiro, mas fingem
não estar nem aí, a la personagem de Agildo Ribeiro, de um programa humorístico
– “eu juro que não fui eu, não vi e nem sei que foi”. Infelizmente, um dos
nossos aqui de Santarém é o campeão em processos – é o verdadeiro ficha suja. E
ele, talvez, se gabe disso.
Na arte dos interesses, mais
pessoais do que sociais, vale tudo. Vale construir pista de pouso em terreno
particular, com 14 milhões de reais públicos, e depois sair dizendo por aí que
se trata de invenção dos opositores. Vale usar a máquina pública para entupir
de funcionários bem pagos para tratarem mal o cidadão, que rala para engordar
funcionários fantasmas.
Vale prometer obras faraônicas,
que nunca sairão do mundo das fantasias. Vale se passar por santo, quando o
inferno todo celebra as suas falcatruas. Vale tudo.
Hannah Arendt destaca “Pode ser
que a tarefa da política seja construir um mundo tão transparente para a
verdade como a criação de Deus. No sentido do mito judaico-cristão, isso
significaria: ao homem, criado à imagem de Deus, foi dada capacidade genética
para organizar os homens à imagem da criação divina. Provavelmente, um absurdo
— mas seria a única demonstração e justificativa possível à ideia da lei da
Natureza”.
Um absurdo pensar que os
políticos estão no poder, ou almejam o poder, para trabalhar em benefício do
que é público, do bem da população com transparência. Sem exageros – alguns
deles até tentam fazer isso, mas acabam caindo na tentação do banquete das
iguarias que Daniel rejeitou por consciência ética.