GAZA/JERUSALÉM
— A ONU e os Estados Unidos condenaram nesta quarta-feira um bombardeio a outra
escola usada pelas Nações Unidas para abrigar palestinos deslocados por causa
da guerra entre Israel e Faixa de Gaza. A Agência das Nações Unidas de
Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que gerencia a escola, acusou
as forças israelenses pelo ataque e disse que é uma "séria violação das
leis internacionais". O bombardeio na instituição, que fica no campo de
refugiados de Jabaliya, em Gaza, matou ao menos 15 civis e feriu outras 90
pessoas — outras fontes citam 20 mortos.
Na mais
forte condenação de Washington à situação em Gaza desde o início da Operação
Limite Protetor, em 8 de julho, a porta-voz do Conselho Nacional de Segurança
americano, Bernadette Meehan, disse que os EUA estão extremamente preocupados
com o fato de que milhares de palestinos não estão seguros em abrigos da ONU.
— Os
Estados Unidos condenam o bombardeio da escola da UNRWA em Gaza, que deixou
mortos e feridos entre palestinos inocentes, incluindo crianças, e
trabalhadores humanitários da ONU — indicou a Bernadette, sem citar Israel.
O 23º dia
da ofensiva provocou mais estragos e mortes em ambos os lados nesta
quarta-feira, apesar de uma trégua humanitária de 4 horas anunciada por Israel.
O breve cessar-fogo foi rejeitado pelo Hamas e as duas partes do conflito
voltaram a se atacar.
Um
bombardeio aéreo israelense a um mercado nos arredores da cidade de Gaza deixou
15 civis mortos e mais de 160 feridos nesta quarta-feira. Do lado de Israel,
três soldados morreram em combates no sul do território palestino.
Desde o
início da ofensiva, Israel lançou 3.289 ataques contra Gaza, provocando a morte
de mais de 1.200 palestinos. De acordo com o Exército israelense, 2.612
foguetes e morteiros foram disparados contra Israel, dos quais 280 caíram
dentro de Gaza. Cinquenta e seis soldados e três civis israelenses morreram na
ofensiva, o registro mais alto desde e guerra contra o Hezbollah libanês, em
2006.
Soldados israelenses carregam um colega ferido
ferido durante a ofensiva de Israel em gaza
SIEGFRIED
MODOLA / REUTERS
ATAQUE A
ESCOLA REQUER JUSTIÇA, DIZ BAN
A
investida contra a escola da ONU provocou reação da comunidade internacional.
No dia 24 de julho, um disparo de artilharia atingiu outra escola das Nações
Unidas na Faixa de Gaza, em Beit Hanun, matando cerca de 15 palestinos. O
Exército israelense havia negado sua responsabilidade no incidente.
— Esta
manhã, uma escola das Nações Unidas que abrigava milhares de famílias
palestinas sofreu um ataque repreensível. É injustificável e requer justiça —
manifestou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, em sua chegada ao aeroporto
internacional da capital da Costa Rica.
O local,
que abrigava cerca de 3.300 pessoas no momento do ataque israelense, foi
atingido por pelo menos três projéteis, de acordo com o diretor da UNRWA,
Robert Turner. Entre as vítimas estão mulheres e crianças que morreram enquanto
dormiam.
Segundo
Turner, a ONU notificou as forças israelenses sobre a localização da escola 17
vezes, a primeira em 16 de julho e a última às 20h48 (horário local) na
terça-feira. Estamos na cena, coletamos provas, verificamos a trajetória e
temos certeza de que era fogo de artilharia israelense — afirmou o diretor da
UNRWA ao jornal "New York Times".
De acordo
com o Exército de Israel, uma investigação preliminar aponta que soldados
teriam disparado contra militantes em resposta ao lançamento de morteiros de
locais próximos da escola.
Muitos
civis palestinos se refugiaram nas escolas da UNRWA, especialmente em Jabaliya,
após a advertência do Exército de Israel sobre a possibilidade de bombardeios
em massa contra seus bairros. Cerca de 200 mil palestinos estão refugiados, em
condições muito precárias, em 83 escolas e prédios geridos pelo principal órgão
de ajuda da ONU em Gaza.
— Essas
pessoas estavam nessa escola porque tinham sido advertidas pelo Exército
israelense para saírem de onde vieram — acrescentou Turner.
A UNRWA
reconheceu que tinha encontrado um esconderijo de foguetes em uma escola, mas
não culpou nenhuma facção em particular. O porta-voz do órgão, Chris Gunness,
condenou os responsáveis pela ação ao pôr em perigo as pessoas.
"Condenamos
o grupo ou grupos que puseram em perigo os civis com a colocação destas
munições em nossa escola. Esta é outra violação flagrante da neutralidade de
nossas instalações. Apelamos a todas as partes no conflito a respeitar a
inviolabilidade da propriedade da ONU", disse Gunness em um comunicado.
Israel
acusa o Hamas de usar a população como escudo humano para proteger seus
arsenais e centro operacionais instalados em igrejas, mesquitas e escolas da
Faixa de Gaza.
HAMAS
ACUSA ISRAEL DE USAR TRÉGUA PARA FINS MIDIÁTICOS
A breve
trégua anunciada por Israel nesta quarta-feira foi considerada insuficiente por
trabalhadores humanitários e não incluia locais onde as forças israelenses
realizam operações por terra.
"O
Exército autorizou uma trégua temporária na Faixa de Gaza. Esta trégua será
aplicada das 15h às 19h (horário local) e não será aplicada às zonas onde os
soldados estão atualmente engajados em operações", afirmou um porta-voz em
comunicado.
O grupo
militante islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, criticou o anúncio de
Israel, dizendo que foi feito para "fins midiáticos". E mais foguetes
foram lançados a partir de Gaza em território israelense. Alguns projéteis
foram interceptados pelo sistema antimíssil de Israel Domo de Ferro. Outros
caíram em campos abertos.
— (O
cessar-fogo) é completamente inútil, porque não inclui toda a Faixa de Gaza,
mas apenas as áreas onde já não há luta — disse o porta-voz do Hamas Sami Abu
Zuhri.
MEDIADORES
EGÍPCIOS PREPARAM PROPOSTA DE CESSAR-FOGO
O Canal
Dois de televisão de Israel informou que houve avanços para conseguir um acordo
de cessar-fogo no Cairo, onde é esperada a chegada de uma delegação palestina
para manter discussões.
avaliar a situação de conflito e considerar outras
medidas. O Exército disse que precisa de cerca de uma semana para completar a
sua principal missão de destruir os túneis que cruzam a fronteira e pelos quais
os militantes palestinos se infiltram em território controlado pleos judeus.
A ofensiva tem forte apoio do público israelense.
Em uma tentativa de elevar o ânimo dos palestinos e desmoralizar Israel, a
emissora de televisão do Hamas transmitiu na segunda-feira imagens que
mostravam os combatentes do grupo usando um túnel para chegar a uma torre de
observação do Exército israelense. Nas imagens, os insurgentes surpreendem um
guarda israelense, disparam e entram na torre.
Mohammed Deif, líder do braço armado do Hamas,
disse em uma mensagem gravada transmitida pela televisão que os palestinos
continuariam a enfrentar Israel até que se suspenda o bloqueio à Faixa de Gaza,
que é apoiado pelo vizinho Egito.
"A entidade da ocupação não desfrutará de
segurança a menos que nosso povo viva com liberdade e dignidade", disse
Deif.
"Não haverá um cessar-fogo antes que a
agressão israelense se detenha e que se suspenda o bloqueio. Não aceitamos
soluções provisórias", acrescentou.