por Joaquim Onésimo Barbosa (*)
Nem bem terminou a primeira semana de programas eleitoreiros, começa-se
– diga-se de passagem, viés dos meios de comunicação – a se questionar o real
potencial de Marina Silva.
A revista Veja, antes preocupada em ocupar-se das ações do governo,
para, neles, achar os limbos que fizessem virar uma tragédia atrás da outra, na
edição deste final de semana, traça um duro perfil de Marina, com críticas,
ironias e toneladas de interrogações, entre elas a da capa “Marina
presidente?”.
A revista Época, para não ser diferente, ainda que em transe pela
iminência de ver a ex-ministra do governo Lula no segundo turno, de igual com
Dilma, pautou-se no caso jatinho, que, segundo a reportagem, pode ser motivo
até de impedimento da candidatura de Marina Silva.
O jornal O Estado de S. Paulo, no mesmo comboio das revistas semanais,
questiona a real capacidade de Marina governar um País sem base firme ou sem
experiência. Não menos crítico, coloca em xeque a capacidade da candidata
sucessora de Eduardo Campos e se, realmente, ela representa os ideais do PSB,
uma vez que está claro que Marina é Rede e não PSB. Também, segundo o texto,
Marina é um remendo no Partido, sem Campos.
O comportamento dos da grande mídia brasileira é explicável. Faz todo
sentido. Quem tem acompanhado a vida política brasileira, costurada pelos meios
de comunicação, entende agora esse comportamento.
Acostumados com o comodismo em que surfava Aécio, candidato preferido
dos da mídia – ainda que Campos fosse a sua segunda opção – os barões da mídia
combinaram, juntos, encapar Aécio, mantê-lo na situação em que se encontrava,
uma vez que Eduardo Campos não parecia ameaçar a posição do tucano, pois, até
então, de acordo com as pesquisas, não ultrapassava os 10% das intenções de
votos.
Também, o percentual de indecisos parecia tender mais para Aécio e não
para Campos, o que seria contornado com o início da propaganda eleitoral, ou
com as mazelas que foram desenhadas pelos donos dos meios de comunicação para
descredenciar Dilma e fortalecer Aécio e, depois, Campos.
Aécio seria poupado disso ou daquilo – algumas vezes arrumariam uma
noticiazinha corriqueira para não deixarem transparecer que são tucanos em
saia, calça e cueca, ou dar aquela ideia de “imparcialidade” – mas dariam um
jeito de contorná-la, enquanto Campos seria poupado de certos infortúnios. As
pedradas fortes ficariam para a candidata petista, já em meio ao tiroteio
midiático. Ela que segurasse o rojão. Se ela aguentou a ditatura, que
aguentasse os barões da mídia.
Tudo combinado. Certamente, diziam eles, a gente dá um jeito, ou, no
passo da música, “tá dominado, tá tudo dominado”.
Para que serve um Jornal Nacional, mesmo que em decadência, com seu bem-vestido
Bonner e dona Poeta?
Para que serve uma revista Veja, mesmo que descredita pelas suas
notícias carregadas de informantes anônimos e empoeirada nas bancas? Para que
serve um Estado de S. Paulo, comandado pela família que sente orgulho de ter
apoiado a Ditadura, ainda que mais sirva para embrulhar do que para informar?
Enfim, para que serve o poder da mídia, que manda e desmanda neste País, que
diz quem quer e quem não quer em determinado lugar?
Eles combinaram. Ensaiaram para a festa, que parecia ser a melhor de
todas as de que já participaram. Mas esqueceram-se de combinar com as
eventualidades do destino.
Após a tragédia que tirou Campos da corrida presidencial, e ainda tontos
pela comoção da perda e do velório, todos os comentaristas pitaqueiros de plantão
concordavam que Marina deveria ser a sucessora natural de Eduardo Campos, na
disputa ao cargo maior da Nação.
De Arnaldo Jabor a Merval Pereira. De Eliane Catanhêde a Reinaldo
Azevedo. Estes e tantos outros, em coro, como os sapos tanoeiros do poema
parnasiano, cantavam a mesma música, sem mudar um timbre. Fizeram até programas
de debates, com direito a bate bola, como se viu na GloboNews.
Agora, por que a situação se volta contra Marina? Por que a ex-ministra
do governo Lula passa a ser o alvo das reportagens dos senhores donos das
“notícias”?
Talvez porque Marina Silva, como disse em um de seus textos o colunista
Luís Nassif, é uma incógnita. Ela é uma caixinha de surpresa. Não se sabe até
agora o que ela realmente representa. Sabe-se, por nuvens, que é apadrinhada de
Neca Setúbal, herdeira do Itaú, e a responsável pelo plano de governo da
candidata agora do PSB. Neca dá entrevistas como se ela é quem fosse governar.
Tem-se colocado, em textos que se podem ler por aí, o duro temperamento
de Marina e a incapacidade de contornar situação, a ponto de levar nomes fortes
do PSB a se desligarem da equipe de campanha da senhora Silva.
O jornalista Paulo Moreira Leite, em um texto publicado na quinta-feira
em seu blog, comenta as incoerências de Marina com relação ao problema de
energia. Segundo ele, Marina não tem razão ao criticar o setor elétrico
brasileiro, uma vez que, quando foi ministra do meio ambiente do governo Lula,
mais atrapalhou do que ajudou a resolver os problemas que se colocavam com
relação às construções de hidrelétricas. E, quando contrariada, fazia-se de
vítima, como dizem os meus alunos, ficava “chatiada” (com i mesmo).
Marina, em sua passagem pelo ministério do meio ambiente, teve uma
atuação apagada, marcada por rusgas, principalmente com Dilma, na época a
ministra das minas e energia.
Somam-se a Marina itens e itens. Agora, encalacrada pelos donos da
mídia, eles parecem deduzir que Marina não é uma candidata de carne e osso, mas
uma invenção, um balão que se encheu para uma festa que já não tem graça.
Certamente, Marina é uma invenção dos próprios que agora começam a
lançar chumbo grosso contra ela. Eles a inventaram e agora querem desfazer-se
da criatura e, como não têm mais controle da situação, passam a achar nela os
negativos da sua trajetória para que ela não alcance voos maiores.
Vendo que Aécio corre o risco de ser um fiasco de candidato – muito pior
do que Serra – os senhores que choravam a perda dos espaços que antes eram
seus, unicamente seus, veem-se em desespero, quando olham que, no fim do túnel,
a luz que lhes parecia próxima, começa a esvair-se e não mais está ao seu
alcance.
Com Aécio, a situação seria mais palpável do que com Marina. Embora ela
seja simpática a tudo e a todos, ou, como diz a reportagem da Veja, embora ela
tenha carisma, eles sabem que seu jeitinho meigo, sua voz suave, suas palavras
amenas e nada inteligíveis (quem lê os textos de Marina não entende nada do que
ela fala), podem ser uma armadilha capaz de lhes trucidar os planos e, mais uma
vez, jogar para bem longe a possibilidade de mandar e desmandar no País.
Marina é uma candidata a candidata que parece ser construída de acordo
com a música. Ela serve para alguma coisa. Ela é boa para alguma coisa, porém,
os da mídia, ainda não descobriram para quê.
Talvez, sabendo que ela tem serventia, é que eles são simpáticos, até
certo ponto, com ela. Talvez, por saberem que,
agora, ela é uma ameaça ao candidato preferido dos senhores, é que eles começam
a achar um jeito de jogá-la no fosso onde ela possa hibernar por mais alguns
anos até tornar-se a senhora perfeita, com que eles sonham, para comandar o
país imaginário, como aquele da Cocanha, descrito por França Júnior.
Marina, para os senhores da mídia, é como aquela personagem de filmes de
terror: eles sabem que ela não sairá da tela para trucidá-los, mas morrem de
medo quando pensam na possibilidade de encontrarem-na por aí quando abrirem a
porta.
Para desespero deles, ela está aí, esbanjando vida e atazanando a vida
de Aécio, que agora precisará, mais do que nunca, das forças do além, se quiser
chegar ao Planalto.
Por que o avião de Campos foi cair justamente no melhor momento da
festa? Plim! Plim!