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Agora há pouco, no meio da tarde, saiu a última previsão do
horário da queda do módulo
Progress. Essa previsão foi calculada pelo Comando Estratégico dos
EUA, um órgão de defesa militar norte americana. Ela foi feita baseada na
observação das órbitas mais recentes e é a mais precisa até o momento.
De
acordo com os cálculos, a reentrada do módulo russo na atmosfera terrestre se
daria às 22h36 (horário de Brasília) da noite desta quinta (7). A margem de
erro é de 2 horas para mais e para menos – ou seja, a “janela” de reentrada vai
desde às 20h36 até 00h36 de amanhã (8).
Semana
passada eu toquei no assunto do módulo Progress, destinado a levar suprimentos
para a Estação Espacial Internacional, ISS em inglês, que falhou assim que foi colocada em órbita.
Mas relembrando os fatos, foi assim.
No dia 28 de abril, o módulo de carga russo Progress foi lançado com a missão
de entregar aproximadamente duas toneladas de suprimentos e equipamentos aos
astronautas da ISS – o módulo em si tem quase 7 toneladas de massa. A missão
previa um acoplamento rápido. Depois de umas quatro órbitas, o módulo seria
guiado até se prender à ISS no dia 1º de maio. Depois que sua carga fosse
transferida, iria permanecer conectada por uns 6 meses, sendo usada como
depósito de lixo descartado pelos astronautas e depois iria ser lançado de
volta à Terra. Guiada pelos técnicos da agência espacial russa Roskosmos, a
Progress iria se desintegrar sobre o Oceano Pacífico pondo fim a uma missão
simples de reabastecimento.
Mas a coisa não foi bem assim.
Um segundo e meio antes de os foguetes do terceiro estágio se desligarem, o
controle da missão perdeu a telemetria tanto do módulo, quanto do próprio
foguete, um Soyuz 2-1A. Radares em Terra que acompanham os objetos em órbita
mostraram que o módulo tinha atingido uma órbita 30 km mais alta que o
esperado, num sinal que os foguetes da Soyuz funcionaram mais do que deviam.
Esses radares também detectaram a presença de pelo menos 40 objetos espalhados
no entorno do módulo, sugerindo que a Soyuz acabou atropelando o módulo assim
que os dois se desprenderam.
Logo em seguida ao desacoplamento do módulo, a telemetria mostrou que os dois
painéis solares se abriram normalmente, mas não foi possível confirmar que as
antenas de navegação conseguiram se abrir, nem se o sistema de propulsão
continuava pressurizado.
Algum
tempo depois, a telemetria confirmou que o sistema de propulsão tinha sido
seriamente danificado, pois perdera pressão e para aterrorizar todos na missão,
o download das imagens da câmera de navegação mostrou que a Progress estava
girando em um dos seus eixos de navegação a uma taxa de uma volta a cada 1,5
segundos.
Até aí
as notícias eram ruins, sabia-se que a missão estava perdida, pois não seria
possível acoplar a Progress na ISS. Só que elas foram ficando piores. Com esse
giro descontrolado, os painéis não conseguiam ficar apontados para o Sol,
fazendo com que o módulo não fosse abastecido pela energia solar. À mercê das
suas baterias, a Progress aguentou ainda um dia, enquanto os técnicos tentavam
a todo custo estabelecer contato com o módulo. Na verdade contato até que
tinha, mas muito rápido, sem que fosse possível transmitir nenhum comando.
Nesse ponto da história, com a missão perdida, os técnicos queriam um contato
mais estável para tentar controlar os movimentos da Progress. Se ela estava
girando em um só eixo, essa tarefa seria fácil, ao menos na teoria. Mas qual o
interesse em se tomar o controle do módulo se a missão estava perdida?
Justamente isso: controlar o módulo.
Quando se perde uma missão espacial, o protocolo é retirar a nave de órbita ou
colocá-la em outra órbita que não atrapalhe ninguém. O melhor é se livrar do
pepino espacial, forçando a nave condenada a reentrar na atmosfera, numa
atitude controlada para “mirar” em uma região da Terra que não ofereça perigo a
ninguém. Só que 24 horas depois de chegar ao espaço, as baterias secaram e se a
comunicação era intermitente, agora morrera definitivamente. Resumindo: existe um pepino espacial de 7 toneladas sobre nossas
cabeças sem nenhum controle.
Nessas condições, é apenas uma questão de tempo para que a Progress entre
novamente na atmosfera. O que acontece é que a órbita da Progress (e mesmo da
ISS) não é tão alta, em torno dos 200 km. Nessa altura, apesar de rarefeita, a
atmosfera exerce um arrasto aerodinâmico considerável que vai freando os
objetos em suas órbitas.
No caso
da ISS, volta e meia sua órbita precisa ser corrigida por meio de disparos de
foguetes para que ela suba mais um pouco. Quem não tem essa possibilidade, como
a condenada Progress, vai caindo aos poucos. Quanto mais ela é freada, mais ela
cai em uma região em que a atmosfera é mais densa. Mais densa, a atmosfera
oferece mais resistência freando mais, acelerando a queda e assim vai.
Mais ou menos a 100 km de altura, a resistência do ar já começa a ficar tão
grande que a nave começa a se despedaçar e, mais importante, o atrito começa a
esquentar o módulo. Viajando a quase 28 mil km/h, rapidamente o módulo atinge
temperaturas da ordem de milhares de graus, de modo que além de se despedaçar,
começa a derreter. Esse é o processo usado para eliminar o lixo espacial que,
de maneira controlada, é bastante seguro.
Só que a Progress não tem controle, não é possível direcioná-la para que sua
desintegração final ocorra sobre o oceano. Isso porque nem todos as componentes
da nave se desintegram nesse processo. Por exemplo, os motores e o sistema de
exaustão dos foguetes são feitos para resistirem às altas temperaturas, senão
não funcionariam, o que faz com que essas peças acabem sobrevivendo à
reentrada. Mas e aí?
É
possível saber onde a Progress vai cair?
Sim, mas apenas algumas órbitas antes de acontecer, tipo 3-4 horas antes
apenas. Isso porque os cálculos dependem de fatores que podem variar muito,
como a altura e a densidade da atmosfera. Esses dois parâmetros dependem
fortemente da atividade solar: em épocas de alta atividade solar, a atmosfera
se expande e aumenta o arrasto em órbitas mais altas, implicando em um
decaimento mais rápido. O máximo que dá para fazer é usar modelos matemáticos
que se adaptam às condições atuais do ciclo solar. Esses modelos apontam que a
Progress deve entrar na
atmosfera terrestre a partir das 19h13 desta quinta-feira (7). Todo o processo
deverá durar até 22h51.
Inicialmente,
a previsão era que isso ocorresse entre os dias 7 e 9 de maio. A informação foi
atualizada nesta tarde pela Roscosmos, agência espacial da Rússia.
Existe risco da Progress cair no Brasil?
Sim, existe, afinal a Progress sobrevoa o país de vez em quando, mas as chances
são muito pequenas! Olha só, se a gente considerar os limites em latitude dos
extremos brasileiros ao norte e ao sul, as chances da Progress cair em terra
firme (em qualquer lugar do planeta compreendido nesses limites) não passam de
40%. Em outras palavras, mais de 60% de chances dela cair no oceano, ou sobre a
Antártica.
Vai
dar para ver seus destroços?
Vai, se tiver alguém para ver é claro. Há vários casos de registros de reentrada
de lixo espacial, mesmo de dia, mas se a Progress cair sobre o oceano ou em
algum lugar remoto do planeta, ninguém vai estar lá para ver. Lembrando que
algumas partes devem sobreviver ao atrito com a atmosfera chegando ao solo, ou
caindo no mar.
Já vivemos uma situação parecida no final de 2011. A sonda russa Phobos-Grunt
foi lançada no dia 8 de novembro daquele ano e, após estabelecer uma órbita
baixa na Terra, deveria disparar seus foguetes e rumar a Marte. Ocorre que a
segunda parte nunca aconteceu, e a Phobos sofreu do mesmo arrasto que a
Progress está experimentando agora.
Finalmente,
dia 15 de janeiro de 2012, a sonda reentrou na atmosfera indo parar no sul do
Oceano Pacífico com 20 ou 30 fragmentos, totalizando 200 kg de destroços,
caindo no mar. Autoridades russas disseram na época que um fragmento teria
caído em Goiás, mas nem a FAB, nem ninguém relatou qualquer coisa
Moral da história: desde que a exploração espacial começou, ninguém nunca foi
atingido por um fragmento de lixo espacial. Vamos acompanhar os acontecimentos,
mas nada de grave deve acontecer.
Imagens:
Fonte G1 portal de noticias da Globo