JN teve acesso à
tabela apreendida. Obras chegam a quase R$ 12 bilhões. Revelação está em uma
das decisões do juiz no caso da Lava Jato.
A Justiça Federal encontrou indícios
de que crimes de corrupção e propina atingem outros setores e empresas
públicas, além da Petrobras. Uma planilha com mais de 700 obras encontrada com
o doleiro Youssef levantou a suspeita. Somadas as obras chegam a quase R$ 12
bilhões.
A revelação está em uma das decisões
do juiz Sérgio Moro no caso da Lava Jato. O juiz se baseou em uma planilha
apreendida com o doleiro Alberto Youssef que lista 750 obras públicas.
Sérgio Moro afirma que, embora a
investigação deva ser aprofundada quanto a este fato, é perturbadora a apreensão
desta tabela nas mãos de Alberto Youssef, sugerindo que o esquema criminoso de
fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobras.
O Jornal Nacional teve acesso à tabela
apreendida com o doleiro. Segundo investigadores, é um controle organizado, que
descreve: construtoras como clientes - algumas delas investigadas e com
executivos presos; e dá detalhes sobre cada obra e valor. Um exemplo: o
documento descreve um pedido de cotação para o gasoduto Ceará-Piauí-Maranhão,
com proposta enviada, segundo o documento, em março de 2010. O valor: mais de
R$ 1 bilhão.
A planilha cita como cliente a UTC
Engenharia, empresa do diretor, Ricardo Pessoa, que está preso e é apontado
como o chefe do chamado clube de empreiteiras que pagava propina para ter
contratos com a Petrobras.
A Petrobras Netherlands, braço da
Petrobras na Holanda, aparece 12 vezes nessa lista. Segundo o documento, são
módulos para as plataformas P-58 e P-62.
O controle encontrado com o doleiro
cita, ainda, obras públicas em outros países como Argentina, Uruguai, Equador,
Colômbia e Angola. No caso da Argentina, há três citações de concorrência
internacional do gasoduto córdoba. Segundo o documento, em uma delas há a
inscrição: financiamento do BNDES. E o valor: R$ 60 milhões em 2008.
A cliente colocada na tabela é a
construtora OAS, investigada na Lava Jato com executivos presos. O documento
descreve, serviços diversos para prefeituras, governos estaduais, governo
federal e empreiteiras. É um apanhado de obras que inclui, além de gasodutos,
refinarias, mineração, aeroportos e portos.
Tem até o Porto de Mariel, em Cuba. A
planilha traz valor de R$ 3,6 milhões. O cliente, segundo o doleiro, é a Olex,
a Odebrecht Logística e Exportações. A Odebrecht é a responsável pela obra
pública no porto de Mariel, em Cuba.
Além disso, projetos da Transpetro são
citados diversas vezes. Paulo Roberto Costa afirmou à Justiça Federal que
recebeu R$ 500 mil em propina das mãos do presidente licenciado da subsidiária
da Petrobras, Sergio Machado.
Investigadores ressaltam que ainda é
cedo para dizer que houve pagamento de propina nas 750 obras que estão na
lista. Mas destacam: a planilha é um indício que reforça a versão dada por
Paulo Roberto Costa à Justiça e a CPI de que o que acontecia na Petrobras acontece
no Brasil inteiro. O documento está orientando novas apurações sobre a dimensão
do esquema.
Na semana que vem, o Ministério
Público Federal deve oferecer as primeiras denúncias contra os executivos de
empreiteiras. Os procuradores vão trabalhar durante o fim de semana para
acelerar essa etapa. O passo seguinte é a Justiça decidir se os executivos vão
virar réus.
A Odebrecht afirmou que não fez
qualquer pagamento a Alberto Youssef para conseguir obras no Brasil ou no
exterior.
A Transpetro declarou que não tem
intermediários na realização de nenhum contrato.
Sérgio Machado, presidente licenciado
da Transpetro, negou as acusações de pagamento de propina. Nesta sexta-feira
(5), o Conselho Administrativo da empresa aprovou pedido de prorrogação da
licença dele.
A OAS e a UTC Engenharia não
responderam às nossas ligações.
A Petrobras não quis comentar a
denúncia.
O BNDES informou que não financiou a
obra na Argentina que foi citada na planilha.
fonte G1