O
Ministério Público Federal no Pará (MPF) denunciou à Justiça Federal o delegado
da Polícia Federal Antonio Carlos Moriel Sanches, suspeito de participar do
assassinato do índio Adenilson Kirixi, da etnia Munduruku.
Se a Justiça aceitar a denúncia, o delegado será
julgado pelo crime de homicídio qualificado, podendo ser condenado a até 30
anos de prisão. Adenilson foi morto em 7 de novembro de 2012, durante uma
operação policial na aldeia Teles Pires, na divisa do Pará com o Mato Grosso. A
chamada Operação Eldorado era coordenada pelo delegado e tinha como objetivo
desarticular uma organização criminosa que extraía ouro e destruir balsas de
garimpo. A quadrilha atuava ilegalmente nas terras indígenas Munduruku e
Kayabi.
A Polícia
Federal estimou que só uma das três empresas que revendiam o ouro no Sistema Financeiro
Nacional movimentou mais de R$ 150 milhões em dez meses de investigações. Os
índios recebiam R$ 30 mil por balsa garimpeira ilegal que, carregada, chegava a
render aos operadores do esquema R$ 500 mil. Quatorze embarcações foram
apreendidas e inutilizadas.
Segundo
relatos de indígenas, uma das lideranças da aldeia tentou convencer os
policiais a não destruírem as balsas. A partir daí, as versões policiais e
indígenas são conflitantes. Os policiais disseram que, na véspera da
ocorrência, cerca de 60 índios tentaram invadir o local onde estava o
coordenador da operação, ameaçando-o com arcos e flechas. Após horas de
negociação, um acordo permitiu que os policiais prosseguissem com a operação.
Apesar disso, os policiais afirmam que, no dia seguinte, foram emboscados
quando retornavam à área.
Em nota
divulgada logo após a ocorrência, a polícia informou que gravações telefônicas
feitas com autorização judicial comprovam que os índios planejavam atacar os
policiais, que só revidaram as agressões para proteger a si e aos servidores do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e da
Fundação Nacional do Índio. Bombas de gás foram lançadas antes que "os
policiais usassem a força necessária para reprimir o ataque, tendo em vista o
grande número de disparos de armas de fogo vindos da aldeia".
Os
mundurukus alegam que não portavam armas e que toda a confusão começou quando o
delegado Antonio Sanches empurrou o cacique da aldeia e, por isso, foi
empurrado por um outro índio que tentava proteger seu líder. Na confusão, o
delegado caiu na água. Os policiais, então, começaram a atirar contra os
índios.
Na
denúncia apresentada à Justiça Federal em Itaituba (PA), o Ministério Público
se vale dos testemunhos indígenas para relatar que vários policiais dispararam
contra os índios, mas que os dois primeiros tiros contra Adenilson foram dados
pelo próprio delegado, que permanecia dentro do rio, com água pela cintura.
Três tiros acertaram as pernas de Adenilson antes que ele também caísse na
água. Nesse momento, afirmam os índios, o delegado acertou um último tiro na
cabeça da vítima. O corpo de Adenilson só foi encontrado no dia seguinte. A
exumação demonstrou que a morte foi causada por um tiro na nuca.
Outros
dois indígenas sofreram lesões corporais graves no dia 7 de novembro de 2012,
mas não foi possível localizar provas que relacionassem os ferimentos
diretamente aos agentes envolvidos na operação. Por isso, apenas o delegado foi
denunciado. Ao Ministério Público, os policiais federais que participaram da
ação declararam não se recordar bem dos fatos.
Em
fevereiro de 2013, lideranças munduruku estiveram em Brasília cobrando das
autoridades que o delegado federal e outros eventuais envolvidos na morte de
Adenilson Kirixi fossem punidos. “A Polícia Federal foi à comunidade e destruiu
tudo. Assassinou um índio, feriu dois, agrediu idosos, mulheres e crianças,
destruiu embarcações e nenhuma providência foi tomada até hoje”, disse à
Agência Brasil, na ocasião, Valdenir Munduruku, um dos líderes da Aldeia Teles
Pires. A reportagem não conseguiu localizar o delegado. A assessoria da Polícia
Federal informou que o órgão aguardará ser oficialmente notificado para se
manifestar sobre o assunto.
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