Mesquitas são conhecidas por serem usadas pelo grupo xiita huthis.
O grupo militante Estado Islâmico, que tomou
grandes áreas do território do Iraque e da Síria, reivindicou a autoria de ataques com homens-bomba em
duas mesquitas usadas por muçulmanos xiitas no Iêmen nesta
sexta-feira (20), de acordo com uma publicação no Twitter.
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Pelo menos 137 pessoas morreram e mais de 200
ficaram feridas nas explosões na capital Sanaa. Ambas as mesquitas são
conhecidas por serem majoritariamente usadas pelo grupo muçulmano xiita huthis,
que tomou o controle do governo iemenita.
O governo norte-americano divulgou uma nota
condenando fortemente o atentado e dizendo que não pode confirmar que os
suicidas eram afiliados ao Estado Islâmico.
O Iêmen vive o risco de uma guerra civil desde
janeiro deste ano, quando o presidente Abd Rabo Mansur Hadi denunciou uma tentativa
de golpe. Grupos radicais disputam o poder no país.
O atentado
Uma testemunha disse ter escutado duas explosões consecutivas em uma das mesquitas, em um bairro central da capital.
Uma testemunha disse ter escutado duas explosões consecutivas em uma das mesquitas, em um bairro central da capital.
Em frente ao local, vários corpos jaziam em poças
de sangue, enquanto os fiéis transportavam os feridos para hospitais próximos.
Os hospitais de Sanaa estavam pedindo por doadores
de sangue para ajudar no tratamento de um grande número de feridos.
Homens carregam feridos após a explosão de uma bomba em Sana, no Iêmen. Ataques em duas mesquitas durante o período de orações da tarde deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)
Os huthis fazem suas orações nessas mesquitas, e entre os mortos está o imã da mesquita de Badr e importante líder religioso da milícia, Al-Mourtada ben Zayd al-Muhatwari, segundo uma fonte médica.
A ascendência ao poder do grupo huthi, apoiado pelo Irã, desde setembro do ano passado, aumentou as divisões da complexa rede política e de alianças religiosas do Iêmen, além de deixar o país excluído do restante do mundo.
Aumento da força dos milicianos xiitas
Desde a insurreição popular de 2011, no âmbito da Primavera Árabe, que levou à queda do presidente Ali Abdullah Saleh, o poder central foi marginalizado por dois potentes grupos militares-religiosos que souberam aproveitar os acontecimentos para aumentar sua influência.Mesquita atingida por homem-bomba é vista nesta sexta-feira (20) em Sanaa, no Iêmen; mais de 100 pessoas morreram (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)
O primeiro, o movimento Ansarullah, recruta novos membros dentro da comunidade zaidita, um braço do xiismo que representa um terço da população do Iêmen.
Confinado no norte do país, nasceu como um movimento de protesto contra a marginalização dos zaiditas por parte do poder e pelo proselitismo sunita do partido islamita Al-Islah.
Este grupo, inspirado no Hezbollah libanês e suspeito de receber o apoio do Irã, se concentrou em Sana em setembro de 2014 e estendeu sua influência ao oeste e ao centro do Iêmen. Se apoderou da capital em 6 de fevereiro.
Dirigido por Abdel Malek al-Huti, é suspeito de querer estabelecer o regime real do imanato (dirigido por imãs) zaidita abolido em 1962.
Investigadores analisam cena de bombardeio em mesquita de Sanaa, nesta sexta (10) (Foto: Mohamed al-Sayaghi/Reuters)
Outro grupo influente no Iêmen é a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), fruto da fusão em 2009 dos braços saudita e iemenita da rede sunita. É considerado pelos Estados Unidos um dos grupos jihadistas mais perigosos.
Muito presente no sul e no sudeste, a AQPA multiplica os atentados e ataques, provocando muitas perdas no exército. O grupo também capturou diversos estrangeiros.
A AQPA reivindicou o atentado de 7 de janeiro contra a redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo, em Paris.
Apesar dos esforços das forças de segurança e dos ocidentais, a Al-Qaeda está se confirmando cada vez mais como a única força capaz de frear o avanço do Ansarullah.
Recrutando sunitas e agindo às vezes em cooperação com tribos hostis ao Ansarullah, a AQPA reivindicou desde setembro diversos atentados contra xiitas.
Destruição é vista ao redor de mesquita em Sanaa, no Iêmen, alvo de
explosão nesta sexta-feira (20) (Foto: Hani Mohammed/AP)
Risco de guerra civil
As esperanças de solucionar a crise através de um diálogo apoiado pelo emissário da ONU no Iêmen, Jamal Benomar, quase desapareceram.
As esperanças de solucionar a crise através de um diálogo apoiado pelo emissário da ONU no Iêmen, Jamal Benomar, quase desapareceram.
O país está praticamente dividido desde que o
presidente Abd Rabo Mansur Hadi se instalou em Aden, principal cidade no sul do
país, depois de ter conseguido fugir de Sana, onde estava sitiado pela milícia
xiita.
Hadi, que havia sido forçado a renunciar em 22 de
janeiro junto com o governo de Khaled Bahah pela pressão dos huthis, ainda é
considerado pela comunidade internacional como o presidente legítimo do Iêmen.
Nos círculos políticos, cada vez fala-se mais de um
risco de guerra civil ou de uma divisão do país.
Como uma amostra deste risco, violentos confrontos
foram registrados na quinta-feira em Aden entre os partidários de Hadi e as
unidades das forças especiais de um general rebelde, que tentaram tomar o
controle do aeroporto, enquanto um bombardeio foi lançado contra o palácio
presidencial da cidade, sem atingi-lo. Hadi denunciou uma tentativa de golpe de
Estado.
Governo brasileiro lamenta atentado
Criança ferida é retirada de mesquita atacada por homem-bomba nesta
sexta-feira (20) em Sanaa, no Iêmen (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)
O governo brasileiro, por meio de nota, lamentou o
atentado no Iêmen. Leia a íntegra:
"O Governo
brasileiro condena, com veemência, os atentados perpetrados hoje em duas
mesquitas de Sanaa, capital da República do Iêmen, que resultaram em dezenas de
mortos e centenas de feridos.
O Governo brasileiro
conclama todos os atores políticos iemenitas à abstenção de atos que possam
provocar a radicalização do processo político, bem como a perseverar no diálogo
como forma de encaminhamento das questões relacionadas à crise institucional
daquela nação árabe.
O Brasil reitera a
centralidade da estabilização política iemenita para o bom encaminhamento de
diversos temas candentes do entorno geopolítico médio-oriental, tais como a
assistência humanitária a refugiados da região do Chifre da África, o combate
ao extremismo religioso e a repressão à pirataria na região dos mares Índico,
Arábico e Vermelho, entre outros.
Como forma de contribuir
para o soerguimento socioeconômico iemenita, o Governo brasileiro tem, desde
2012, convidado e recebido sucessivas missões oficiais daquele país para
treinamento e capacitação em tecnologias e políticas de desenvolvimento humano,
combate à fome, extensão rural e implementação de programas de assistência
social e escolaridade básica. Tais esforços culminaram na assinatura de
Acordo-Quadro bilateral de Cooperação Técnica, em agosto de 2014, instrumento
que norteará novas ações bilaterais de cooperação, tão logo concluído o
processo de ratificação pelos signatários."
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