BBC conversou com autor do vídeo de depoimento de menino ferido em
ataque com míssil e que morreria alguns dias depois; guerra já matou mais de
500 crianças.
Mai NomanDa BBC
Fareed morreu dias após bombardeio
(Foto: Ahmed Basha/BBC)
Um vídeo de um
menino do Iêmen deitado em uma cama de hospital
sendo atendido por médicos após um ataque com míssil foi visto mais de 50 mil
vezes no Facebook e virou um símbolo do custo humano da guerra em seu país.
O vídeo mostra
Fareed Shawki, de seis anos, com lágrimas nos olhos, pedindo aos médicos:
"Não me enterrem".
Ele tinha
ferimentos na cabeça e outras partes do corpo e sofria de hemorragia interna
após ser atingido por estilhaços provocados por um ataque de míssil feito por
rebeldes Houthi.
Partes do Iêmen
também estão sendo bombardeadas pelo ar por uma coalizão liderada pelaArábia Saudita.
O vídeo, que
contém imagens fortes, pode ser visto aqui. Alguns dias
após as imagens serem feitas, Fareed Shawky morreu. Desde então, seu apelo pela
vida se espalhou pelas redes sociais.
Milhares de
iemenitas estão usando, nas redes sociais, as palavras do menino para pedir o
fim do conflito.
"Assim
como a morte do menino Alan [Kurdi] simbolizou a tragédia dos sírios, o apelo
de Fareed para não ser enterrado simboliza a tragédia das pessoas do
Iêmen", escreveu um ativista iemenita no Facebook.
Outro escreveu:
"Para o filho que nunca tive: Você vai me agradecer por não ter tido você,
querido. Esse não é um bom lugar para você, acredite em mim. Não sou tão forte
quanto sua avó e todas as histórias que eu sei agora sobre guerra, morte,
pessoas loucas e um lar perdido."
Imagem do vídeo mostra Fareed no
hospital (Foto: Ahmed Basha/BBC)
Pelo menos
2.300 civis foram mortos na guerra no Iêmen - incluindo mais de 500 crianças. A
terceira maior cidade do Iêmen, Taiz, onde Fareed vivia, tem testemunhado
alguns dos conflitos mais intensos entre moradores locais - armados pela
coalizão liderada pela Arábia Saudita - e os Houthis.
A história de
Fareed
Em 13 de outubro, um míssil atingiu uma área residencial de Taiz. "Eu estava andando por uma rua quando ouvi um míssil ser lançado e congelei no local, me perguntando onde ele cairia", disse ao BBC Trending Ahmed Basha, o fotógrafo iemenita que publicou o vídeo.
Em 13 de outubro, um míssil atingiu uma área residencial de Taiz. "Eu estava andando por uma rua quando ouvi um míssil ser lançado e congelei no local, me perguntando onde ele cairia", disse ao BBC Trending Ahmed Basha, o fotógrafo iemenita que publicou o vídeo.
Quando Basha
ouviu a explosão ele correu em direção ao local em que o míssil caiu.
"Tinha caído em uma casa", disse Basha. "Vi pelo menos cinco
crianças, que estavam brincando do lado de fora, sendo levadas para o hospital
em motos."
Basha os seguiu
até o hospital e, imediatamente, viu que Fareed Shawky, havia sofrido os
ferimentos mais graves. "Ele tinha momentos com consciência e sem",
conta.
"Fiquei
com o coração partido por esse menino e então publiquei o vídeo na página de
Facebook que eu tenho, mas não recebeu muita atenção", diz. Aparentemente,
a história de Fareed só se tornou viral depois que ele morreu.
"Uma pena
que as pessoas não tenham se importado mais quando ele estava vivo. Suas
palavras vão ficar comigo", diz.
Conflito no Iêmen já matou mais de 500
crianças (Foto: Ahmed Basha/BBC)
A morte de
Fareed pode ter feito sua história mais difícil de ignorar, mas pelo visto
foram suas palavras que ressonaram com milhares de iemenitas compartilhando sua
imagem.
"'Não me
enterre...', o menino resumiu tudo. Piedade por sua alma e de todos os outros
jovens mortos sem nenhum razão", escreveu um iemenita no Facebook.
Há um forte
sentimento anti-Houthi em Taiz, e muitos dos que estão postando informações
sobre o conflito são favoráveis à coalizão da Arábia Saudita que visa derrotar
os rebeldes. Mas a conversa sobre a morte do menino parece ter transcendido
divisões, fazendo com que ambos os lados pedissem o fim da violência.
"A guerra
não tem fim, deve haver uma solução para este conflito", diz Basha.
"Afinal, são crianças, elas não têm nada a ver com a política dessa
guerra."
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Iêmen
G1 Globo
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