Marco Aurélio Mello diz
que fatos estranhos ao exercício do mandato não podem ser investigados agora
O ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello é contra a possibilidade de
investigar a presidente da República, Dilma Rousseff, por eventuais fatos que
não tenham ligação com o exercício do mandato. No início do mês, em
manifestação que fez ao STF em relação ao processo da Operação Lava-Jato, que
apura irregularidades na Petrobras, o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, descartou investigar Dilma, citando o artigo 86 da Constituição. O
artigo diz: “O presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode
ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.” Ontem,
em conversa com parlamentares de oposição que querem a investigação de Dilma, Janot
acrescentou que não tem elementos para investigá-la.
— De início, a
Constituição veda a responsabilização. Agora indaga-se: para que investigar?
Não estaria em jogo de qualquer forma o objeto dessa cláusula constitucional
que afasta responsabilização. O que se quer com a cláusula é proteger em si o
cargo. Já está tão difícil governar o país. Imagine então se nós tivermos
inquérito contra a presidente da República — afirmou Marco Aurélio.
Questionado se isso
seria uma questão de governabilidade ou de justiça, ele respondeu:
— De justiça sim. Não há
impunidade aí. Por atos estranhos ao exercício do mandato, ela responderá ao
térmico do mandato. E aí haverá julgamento pelo juiz natural, ou seja, em
primeira instância.
O ministro também
afirmou que o arquivamento de inquérito contra o senador Jader Barbalho
(PMDB-PA), divulgado pelo GLOBO, passa a ideia de impunidade. O caso foi
arquivado na segunda-feira sem ao menos ser julgado porque houve extinção da
punibilidade, ou seja, passou-se tanto tempo dos crimes, que o investigado não
poderia mais ser punido, mesmo que fosse condenado. A regra do foro
privilegiado, pela qual deputados federais e senadores são julgados no STF,
ajudou na demora. Isso porque houve momentos em que Jader não era parlamentar,
fazendo com que processo viajasse por vários tribunais do país.
— Eu vi a notícia hoje.
Há uma dinâmica. Essa dinâmica é que precisa ser observava para que não ressoe
o arquivamento como impunidade. Isso é ruim. A sociedade fica decepcionada
quando há o arquivamento de um inquérito. Passa (ideia de impunidade), mas
decorre da morosidade da Justiça. E há aqueles que apostam nessa morosidade —
disse o ministro do STF.
As declarações de Marco
Aurélio foram feitas no Clube do Exército, após cerimônia em que a Justiça Militar
da União condecorou diversas pessoas com as insígnias da Ordem do Mérito
Judiciário Militar. Entre os agraciados estava a filha dele. Janot também foi
condecorado, mas saiu sem falar com a imprensa.
O
Superior Tribunal Militar (STM) informou que presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), também receberia a insígnia, mas ele não compareceu. A
assessoria de imprensa do parlamentar comunicou que ele viajou para o exterior.
Com isso, foi evitado o constrangimento de ter Janot e Cunha lado a lado. No
início do mês, Janot pediu a investigação do presidente da Câmara no âmbito da
Lava-Jato. Em entrevista ao GLOBO no último domingo, Cunha revidou e disse que
estava em guerra aberta contra Janot e que tudo era possível.
Fonte: ORMNews.
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