Debruçado
na amurada do “Almeida Júnior”, o portentoso barco que fazia a linha
Oriximiná/Santarém no início da década de 1970, passei parte da madrugada
sentindo o cheiro gostoso do remanso trazido pela brisa do Amazonas, dividindo
com Agenor, seu proprietário, generosas porções de café com que espantávamos o
sono, servidas pelo solícito cozinheiro.
Tímido e caladão, ele era um excelente papo. Desta feita, me
contava com orgulho que se sentia realizado, pois o transporte de cargas e
passageiros entre as duas cidades, com breve parada em Óbidos, lhe dera
estabilidade econômica e tudo indicava que o horizonte lhe sorria sem
percalços, de vez que o único concorrente, o “Rio Hidequel”, do qual era
proprietário seu amigo obidense Orivaldo Nunes, não era páreo para seu, mais
potente e com maior capacidade operacional.
Surpreendeu-me, portanto, a certa altura da narrativa, a
confidência de que no final no ano pretendia parar. E ante a minha muda
indagação esclareceu o porquê daquela decisão: a necessidade de estar mais
tempo com a família, a fadiga de quem passava as noites em claro
supervisionando os serviços de bordo, o risco que era enfrentar as pavorosas
tempestades tropicais naquele vasto trecho desabrigado do farol do Patacho, os
traiçoeiros bancos de areia que se multiplicam na vazante, o sempre possível
choque do casco com enormes troncos submersos, alegações todas plausíveis.
fonte
bloj.
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