quarta-feira, 30 de julho de 2014

GAZA/JERUSALÉM


GAZA/JERUSALÉM — A ONU e os Estados Unidos condenaram nesta quarta-feira um bombardeio a outra escola usada pelas Nações Unidas para abrigar palestinos deslocados por causa da guerra entre Israel e Faixa de Gaza. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que gerencia a escola, acusou as forças israelenses pelo ataque e disse que é uma "séria violação das leis internacionais". O bombardeio na instituição, que fica no campo de refugiados de Jabaliya, em Gaza, matou ao menos 15 civis e feriu outras 90 pessoas — outras fontes citam 20 mortos.
Na mais forte condenação de Washington à situação em Gaza desde o início da Operação Limite Protetor, em 8 de julho, a porta-voz do Conselho Nacional de Segurança americano, Bernadette Meehan, disse que os EUA estão extremamente preocupados com o fato de que milhares de palestinos não estão seguros em abrigos da ONU.
— Os Estados Unidos condenam o bombardeio da escola da UNRWA em Gaza, que deixou mortos e feridos entre palestinos inocentes, incluindo crianças, e trabalhadores humanitários da ONU — indicou a Bernadette, sem citar Israel.
O 23º dia da ofensiva provocou mais estragos e mortes em ambos os lados nesta quarta-feira, apesar de uma trégua humanitária de 4 horas anunciada por Israel. O breve cessar-fogo foi rejeitado pelo Hamas e as duas partes do conflito voltaram a se atacar.
Um bombardeio aéreo israelense a um mercado nos arredores da cidade de Gaza deixou 15 civis mortos e mais de 160 feridos nesta quarta-feira. Do lado de Israel, três soldados morreram em combates no sul do território palestino.
Desde o início da ofensiva, Israel lançou 3.289 ataques contra Gaza, provocando a morte de mais de 1.200 palestinos. De acordo com o Exército israelense, 2.612 foguetes e morteiros foram disparados contra Israel, dos quais 280 caíram dentro de Gaza. Cinquenta e seis soldados e três civis israelenses morreram na ofensiva, o registro mais alto desde e guerra contra o Hezbollah libanês, em 2006.
Soldados israelenses carregam um colega ferido ferido durante a ofensiva de Israel em gaza
 
SIEGFRIED MODOLA / REUTERS
ATAQUE A ESCOLA REQUER JUSTIÇA, DIZ BAN
A investida contra a escola da ONU provocou reação da comunidade internacional. No dia 24 de julho, um disparo de artilharia atingiu outra escola das Nações Unidas na Faixa de Gaza, em Beit Hanun, matando cerca de 15 palestinos. O Exército israelense havia negado sua responsabilidade no incidente.
— Esta manhã, uma escola das Nações Unidas que abrigava milhares de famílias palestinas sofreu um ataque repreensível. É injustificável e requer justiça — manifestou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, em sua chegada ao aeroporto internacional da capital da Costa Rica.
O local, que abrigava cerca de 3.300 pessoas no momento do ataque israelense, foi atingido por pelo menos três projéteis, de acordo com o diretor da UNRWA, Robert Turner. Entre as vítimas estão mulheres e crianças que morreram enquanto dormiam.
Segundo Turner, a ONU notificou as forças israelenses sobre a localização da escola 17 vezes, a primeira em 16 de julho e a última às 20h48 (horário local) na terça-feira. Estamos na cena, coletamos provas, verificamos a trajetória e temos certeza de que era fogo de artilharia israelense — afirmou o diretor da UNRWA ao jornal "New York Times".
De acordo com o Exército de Israel, uma investigação preliminar aponta que soldados teriam disparado contra militantes em resposta ao lançamento de morteiros de locais próximos da escola.
Muitos civis palestinos se refugiaram nas escolas da UNRWA, especialmente em Jabaliya, após a advertência do Exército de Israel sobre a possibilidade de bombardeios em massa contra seus bairros. Cerca de 200 mil palestinos estão refugiados, em condições muito precárias, em 83 escolas e prédios geridos pelo principal órgão de ajuda da ONU em Gaza.
— Essas pessoas estavam nessa escola porque tinham sido advertidas pelo Exército israelense para saírem de onde vieram — acrescentou Turner.
A UNRWA reconheceu que tinha encontrado um esconderijo de foguetes em uma escola, mas não culpou nenhuma facção em particular. O porta-voz do órgão, Chris Gunness, condenou os responsáveis ​​pela ação ao pôr em perigo as pessoas.
"Condenamos o grupo ou grupos que puseram em perigo os civis com a colocação destas munições em nossa escola. Esta é outra violação flagrante da neutralidade de nossas instalações. Apelamos a todas as partes no conflito a respeitar a inviolabilidade da propriedade da ONU", disse Gunness em um comunicado.
Israel acusa o Hamas de usar a população como escudo humano para proteger seus arsenais e centro operacionais instalados em igrejas, mesquitas e escolas da Faixa de Gaza.
HAMAS ACUSA ISRAEL DE USAR TRÉGUA PARA FINS MIDIÁTICOS
A breve trégua anunciada por Israel nesta quarta-feira foi considerada insuficiente por trabalhadores humanitários e não incluia locais onde as forças israelenses realizam operações por terra.
"O Exército autorizou uma trégua temporária na Faixa de Gaza. Esta trégua será aplicada das 15h às 19h (horário local) e não será aplicada às zonas onde os soldados estão atualmente engajados em operações", afirmou um porta-voz em comunicado.
O grupo militante islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, criticou o anúncio de Israel, dizendo que foi feito para "fins midiáticos". E mais foguetes foram lançados a partir de Gaza em território israelense. Alguns projéteis foram interceptados pelo sistema antimíssil de Israel Domo de Ferro. Outros caíram em campos abertos.
— (O cessar-fogo) é completamente inútil, porque não inclui toda a Faixa de Gaza, mas apenas as áreas onde já não há luta — disse o porta-voz do Hamas Sami Abu Zuhri.
MEDIADORES EGÍPCIOS PREPARAM PROPOSTA DE CESSAR-FOGO
O Canal Dois de televisão de Israel informou que houve avanços para conseguir um acordo de cessar-fogo no Cairo, onde é esperada a chegada de uma delegação palestina para manter discussões.
 
avaliar a situação de conflito e considerar outras medidas. O Exército disse que precisa de cerca de uma semana para completar a sua principal missão de destruir os túneis que cruzam a fronteira e pelos quais os militantes palestinos se infiltram em território controlado pleos judeus.
A ofensiva tem forte apoio do público israelense. Em uma tentativa de elevar o ânimo dos palestinos e desmoralizar Israel, a emissora de televisão do Hamas transmitiu na segunda-feira imagens que mostravam os combatentes do grupo usando um túnel para chegar a uma torre de observação do Exército israelense. Nas imagens, os insurgentes surpreendem um guarda israelense, disparam e entram na torre.
Mohammed Deif, líder do braço armado do Hamas, disse em uma mensagem gravada transmitida pela televisão que os palestinos continuariam a enfrentar Israel até que se suspenda o bloqueio à Faixa de Gaza, que é apoiado pelo vizinho Egito.
"A entidade da ocupação não desfrutará de segurança a menos que nosso povo viva com liberdade e dignidade", disse Deif.
"Não haverá um cessar-fogo antes que a agressão israelense se detenha e que se suspenda o bloqueio. Não aceitamos soluções provisórias", acrescentou.