domingo, 10 de maio de 2015

PRECONCEITO DIFICULTA VIDA DE MÃES NA HORA DE AMAMENTAR

Estudante relata constrangimento durante amamentação de filha de 1 ano.
Advogada diz que dano moral pode ser punido pela lei. 
Maria da Silva luta pelo direito de dar de mamar sem constrangimento para a filha Violeta (Foto: Kleverson Lima / Arquivo pessoal)
Para a estudante de pedagogia Samily Maria da Silva, amamentar a pequena Violeta, de 1 ano e 8 meses,  é um ato de amor.  “É uma questão nutricional e afetiva. Estudos científicos já apontam o quão fundamental para o desenvolvimento fisiológico e afetivo da criança é a amamentação”, disse. O problema é que, apesar da importância desta alimentação, o gesto ainda é visto com preconceito: a mãe relata que já foi censurada em público apenas por saciar a fome de sua bebê.
Já sofri constrangimento várias vezes por amamentar em público. Uma senhora certa vez sentou ao meu lado no ônibus, e me ‘aconselhou’ a cobrir a mama com um pano. Cuidadosamente perguntei a ela se ela gostaria de comer com um pano no rosto"
Maria da Silva, estudante de pedagogia
“Já sofri constrangimento várias vezes por amamentar em público. Uma senhora certa vez sentou ao meu lado no ônibus, e me ‘aconselhou’ a cobrir a mama com um pano. Cuidadosamente perguntei a ela se ela gostaria de comer com um pano no rosto”, conta a universitária.
Segundo Maria, quem mais reprova a amamentação pública são as mulheres. “Os homens são mais na deles. Rolam uns olhares, às vezes até sexualizando o ato, mas de intervir diretamente as mulheres fazem mais”, aponta a jovem, que vê este tipo de censura como um sintoma de uma sociedade majoritariamente machista. “Há essa construção histórica do corpo culpado das mulheres, de que nós precisamos esconder o corpo para nos protegermos”, relata.
Mesmo com essas dificuldades, a jovem disse que prefere encarar o preconceito do que amamentar em lugares inadequados, como banheiros públicos. “Sempre encaro... e parto para o embate, se for preciso”, afirma.
Direito da família
De acordo com a advogada Nena Sales, não existe no Brasil uma lei que obrigue a criação de espaços para aleitamento em locais de uso público ou coletivo. “Eu acho um absurdo, isto é um direito sobretudo da criança de ser amamentada. É uma garantia constitucional, mas não temos garantias para que isto ocorra. As mulheres ainda  sofrem constrangimentos. Ainda se observa o machismo das pessoas se incomodarem de assistir ao ato da amamentação como se fosse uma desnudação, e não se trata disso”, critica.
Ainda se observa o machismo das pessoas se incomodarem de assistir ao ato da amamentação como se fosse uma desnudação, e não se trata disso"
Nena Sales, advogada
Para Maria da Silva todo lugar limpo poderia ser adequado para a amamentação, sem a necessidade de construção de espaços especiais. Como isto não acontece, ela acredita que uma lei estadual poderia facilitar a lactação das mães paraenses. “O ideal seria que não precisássemos de lei para assegurar que um ato natural e de amor como este fosse simplesmente respeitado. Mas, já que vivemos em uma sociedade adoecida, uma lei que assegurasse este direito seria o mínimo”, reclama.
A advogada Nena Sales recorda que o estado de São Paulo aprovou uma lei em abril de 2015 para garantir o aleitamento materno em qualquer lugar. Ela diz que, embora não exista projeto semelhante no Pará, as mães estão amparadas pela justiça para garantir a alimentação dos seus bebês.
“O Tribunal de Justiça do Pará, se for acionado porque a mulher sofreu constrangimento ao amamentar, garantirá o seu direito em tribunal. Há uma proteção ao filho amamentado e a mãe que amamenta, e constrangimentos são casos de dano moral”, avalia.
 quiser (Foto: Maria da Silva / Arquivo Pessoal)
Valor nutricional
De acordo com a nutricionista Gilmara Silva, a luta das mães pelo direito de amamentar é justificada, já que o leite materno tem tudo o que bebês de até seis meses de idade precisam para se alimentar, e que pode suprir até dois terços da necessidade energética de bebês mais velhos. “O valor nutricional do leite materno é que ele contém todos os nutrientes que o recém-nascido precisa. Ele possui inclusive anticorpos, e por isso falamos que o leite é um alimento vivo”, explica.
Ainda segundo a médica, mães e bebês não devem ser interrompidos durante a amamentação. “Ao longo de toda mamada o leite vai mudando. No começo ele é rico em água, e no final fica rico em proteína. A amamentação não pode ser interrompida, pois o bebê precisa de todos os nutrientes”, destaca.
  
Mãe de leite
A assistente administrativa Danuza de Souza compreende a importância do aleitamento materno tanto que, além de alimentar sua filha Clara, contribui para o desenvolvimento de bebês prematuros internados na UTI Neonatal da Santa Casa, em Belém: ela armazena em tudo o que sua filha não mama para doar para o banco de leite do hospital, que atende 162 leitos de crianças prematuras.
Ela é a recordista de doação no hospital: a coleta passa três vezes por semana na casa dela e, em um uma única doação, chegou a arrecadar 26 litros. “Este número dá para aproximadamente mil e trezentas mamadas, e alimenta mais de 100 crianças em um dia”, destaca a nutricionista Cynara Souza.
O volume de doações de Danuza surpreendeu até os bombeiros que fazem a coleta do material. “Geralmente  a gente espera dois ou três vidrinhos. Quando ela falou que era 25 até perguntamos ‘é isso mesmo?’”, destaca a soldado Alisa Matos.
“A gente olhando cada um desses bebês, é inexplicável. Me sinto um pouquinho mãe deles. Enquanto tiver leite, eu vou doar”, conta Danuza.
Fonte G1 do Pará

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